
CUIDADO NA VOLTA AO TREINO
Quem ficou sem se exercitar durante a pandemia deve retomar os exercícios devagar e com acompanhamento profissional

Apesar de as academias estarem abertas desde meados de agosto com regras rígidas e cuidados para proteger os usuários da Covid-19, boa parte dos frequentadores ainda não retomou os treinos por receio de contaminação pelo SARS-CoV-2. Para quem está se preparando para voltar a treinar depois de mais de oito meses de isolamento a recomendação é começar devagar – como se fosse um sedentário – para evitar lesões tanto no aparelho locomotor (ósseo ortopédico), que envolve braços e pernas, quanto no coração. Mesmo aqueles que mantiveram uma rotina de exercícios em casa durante a pandemia devem, antes de tudo, fazer uma avaliação médica para retomar os treinos sem riscos, sempre com acompanhamento de um profissional de Educação Física.
O cardiologista e médico do esporte Nabil Ghorayeb, chefe do Departamento de Esportes e Cardiologia do Hospital Dante Pazzanese e do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, e membro da Sociedade Europeia de Cardiologia e do Tecnical Board of Federal Council of Medicine, lembra que o risco de quem parou de fazer exercícios regularmente está relacionado à perda da mobilidade, daí uma maior chance de sofrer lesões ao retornar sem os cuidados necessários. A recomendação é planejar os exercícios de forma a atingir o ápice em 12 a 14 semanas após a retomada (150 minutos de atividade moderada por semana), que é o mínimo exigido para uma atividade física saudável. Aqueles indivíduos que têm por hábito fazer exercícios intensos devem começar com 75 minutos por semana. Para qualquer atividade física também é fundamental conhecer e respeitar os limites do corpo.
“Temos visto exageros nas academias que estão provocando todo tipo de lesão muscular, porque a turma quer recuperar tudo o que não fez durante os últimos meses em algumas semanas. Além disso, têm ocorrido arritmias cardíacas devido a esse comportamento, que são perigosas”, alerta o médico. Para as pessoas que tiveram Covid-19 leve, moderada ou grave, a recomendação é fazer uma avaliação cardiológica obrigatória antes de retornar aos treinos. Segundo o cardiologista, 22% dos indivíduos que tiveram Covid-19 no mundo, principalmente aqueles que ficaram hospitalizados, apresentaram problemas cardíacos até 90 dias após o quadro viral. Por esse motivo, é fundamental uma avaliação cardiológica competente, no mínimo com um eletrocardiograma e teste ergométrico feitos por um médico, antes de começar qualquer atividade física.
O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Marcelo Bichels Leitão, acrescenta que os indivíduos que ficaram por meses em casa, na maior parte do tempo sentados, devem lembrar que isso intensifica o efeito da inatividade física e faz com que a perda de condicionamento seja ainda maior. O especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e em Cardiologia recomenda que, sempre que possível, seja feito um teste de esforço para avaliar a condição física antes de voltar aos treinos. “Indivíduos com alguma condição de saúde preexistente, como diabetes ou doença metabólica, devem obrigatoriamente fazer exames clínicos antes da retomada das atividades físicas para garantir que estejam em perfeitas condições para o treino”, orienta. No retorno à academia, também é importante ficar atento a sinais como falta de ar desproporcional ao esforço, palpitação, dor ou aperto no peito, que podem surgir depois de algumas semanas da retomada dos exercícios e demandam ajuda médica.
CARGA
O atleta olímpico César Castro, treinador da equipe brasileira de Saltos Ornamentais e professor de Educação Física do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, ensina que é importante respeitar o princípio da elevação progressiva de carga ao voltar aos treinos. Como cada indivíduo tem suas peculiaridades, características e histórico de lesões, é indicado o acompanhamento de um profissional de Educação Física, assim como a prática de atividade física moderada diariamente. O professor sugere um reforço muscular na região do core – composta de 29 pares de músculos que suportam e estabilizam bacia, pélvis e abdome, e considerada o centro de gravidade do corpo. “Essa musculatura fica ao redor de toda a região do tronco, na linha da coluna lombar, e é um bom começo para evitar lesões. O aumento regular, progressivo e supervisionado trará benefícios e possibilitará a melhora no rendimento”, acentua o professor César Castro.
• Até mesmo quem treinava forte antes da pandemia deve retornar progressivamente. Isso porque, ficar muito tempo sentado intensifica o efeito da inatividade física e a perda de condicionamento é ainda maior.
• Siga os protocolos de distanciamento social, higienização de equipamentos compartilhados e uso de máscara, mesmo durante a atividade física
• É importante lembrar que nem todos podem praticar corrida, por ser uma atividade de alta intensidade.
• Se a atividade for mais prolongada, leve mais de uma máscara para trocar. Se ficar umedecida, a máscara perde a função de proteção.
• Antes de começar a correr, o melhor a fazer é procurar uma avaliação profissional para saber que tipo de exame é necessário.

ISOLAMENTO LEVOU AO EXCESSO DE PESO
A pandemia de Covid-19 agravou um problema que já preocupa os médicos e as autoridades de saúde pública: a obesidade. Segundo levantamento recente, os brasileiros que ficaram em casa durante o isolamento engordaram, em média, de um ou dois quilos por mês, o que significa um acúmulo de peso entre oito e 10 quilos no período. “O pior é que constatamos ganho de peso inclusive em crianças, porque pararam de ir para a escola e de brincar com os amigos. Esse sobrepeso em crianças e adolescentes é uma questão muito importante, porque quando alcançarem a idade adulta existe uma grande chance de acabarem desenvolvendo uma situação crítica de obesidade”, adverte o cardiologista Nabil Ghorayeb. A orientação para os pais é que estimulem as crianças a se movimentarem, frequentando os parques e praças que já estão abertos – desde que cumprindo as regras de segurança com uso de máscara e distanciamento social. Também é fundamental organizar a alimentação dos pequenos, restringindo doces e estimulando o consumo de duas frutas por dia.
Revista da Piscina - Primavera/Verão 2020